Editorial

No fim de 2015, lançamos a primeira edição desta antologia. Ela estampava um 2015
dourado, pixelado, chupado das fontes de Metal Slug, em pixel art. Essa edição estampa
o ano de 2017 na capa e também traz uma coletânea de histórias em quadrinhos
de autores independentes, mas as semelhanças acabam por aí.

2015 foi uma revista realizada por meio de uma chamada aberta online, uma tentativa
de apresentar um recorte relativamente espontâneo daquilo que chegou até nós
e do que poderíamos alcançar. Nunca tivemos a pretensão de ser um fenomenal guia
do quadrinho independente nacional – tarefa difícil e além da gente – mas, mesmo
assim, tentamos apresentar uma variedade dentro daquilo que encontamos ao nosso
redor. Queríamos explorar histórias um pouco maiores, comparadas com a média
da nossa zine mensal, mas não queríamos alienar histórias menores – propusemos
que os autores mandassem histórias de duas a oito páginas, então.

2017 foi uma revista feita a partir de convites para os autores, que traduziam o que
conhecemos do seu trabalho e o tipo de histórias que imaginávamos que eles poderiam
trazer, assumindo assim um papel curatorial muito aior. Caímos de vinte e
sete autores para doze de uma edição para a outra. O número de páginas não caiu
proporcionalmente: o fato é que, em 2015, recebemos várias histórias de duas
páginas. Parte das escolhas desse ano partiram, portanto, de pedir um número fechado
de páginas: a cada autor solicitamos uma história completa, realizada em 10
páginas. Infelizmente, nem todos que convidamos puderam participar. Em sua maior
parte, manifestaram um apoio que foi essencial para que conseguíssemos chegar
aqui. Agradecemos a todos, de coração.

Ter menos autores significa que as escolhas, é claro, são ainda mais difíceis. As escolhas
foram feitas com alguns critérios como norte, mas muitas vezes as coisas se resolveram
de maneira menos planejada, à medida que o projeto se desenvolvia e buscávamos
resolver certos impasses. Queríamos manter a ideia de termos autores relativamente
novos, como sempre foi nosso foco quando trabalhando com pessoas de fora
da editora, afinal, incluímo-nos nós da MÊS nessa categoria, claro. Muitos dos novos
convidados começaram a publicar impressos independentes mais ou menos na mesma
época que a gente – “Desejo-te todas as flores”, da Cath Gomes, foi publicada
em 2014, por exemplo. A primeira publicação do Adonis Pantazopoulos, em conjunto
com Puiupo – “Úlcera” – é deste ano. Heron publicava as primeiras “P-Ligro” já em
2012, um pouco antes da primeira “Janeiro” sair.

Ao mesmo tempo, pensamos que trazer alguns veteranos adiciona uma perspectiva
à curadoria e ver os diferentes trabalhos lado a lado nos permite perceber suas relações
e um pouco dos caminhos que a cena tem tomado. Fábio Cobiaco, da aclamada
“Mayo” e G. Mombasca, dos desbravadores da “Samba”, se juntam a nós nessa
empreitada.

Temos aqui o fruto de um trabalho muito prazeroso, de qualidade, de três regiões do
país. Doze boas leituras. Esperamos que o público possa aproveita-las tanto quanto
pudemos, trabalhando na montagem desta antologia.

Antônio Silva,
Editor